Eles costumam ser o nosso cartão de visitas. Os dentes são responsáveis pelo sorriso e importantes no processo de alimentação. Assim como outras partes do corpo humano, merecem cuidados especiais e podem causar doenças graves quando negligenciados. Dentistas alertam também que problemas bucais como dores, mau hálito e perda de dentes têm afetado a saúde mental dos pacientes.
Por outro lado, pessoas que sofrem de algum tipo de transtorno mental, a exemplo do estresse excessivo, depressão e ansiedade, podem agravar as complicações bucais. De acordo com o relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), 3,5 bilhões de pessoas sofrem de doenças bucais. Além disso, o relatório diz que o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo.
“Problemas bucais podem afetar a autoestima, a autoconfiança e a qualidade de vida do paciente. Dores constantes, mau hálito ou a perda de dentes podem levar a sentimentos de vergonha, isolamento e até depressão”, afirma a dentista Fernanda Mourato, especialista em odontologia estética. “O sorriso é parte essencial da expressão facial, e problemas odontológicos podem impactar negativamente nas interações sociais, agravando questões emocionais.”

Pacientes com cáries, gengivite e outros problemas bucais podem sentir dores crônicas, dificuldades na alimentação e constrangimento social. Segundo os especialistas, isso contribui para o desenvolvimento ou agravamento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Já quem sofre de depressão e ansiedade pode ter tendência a negligenciar os cuidados bucais.
A dentista Fernanda Mourato explica ainda que a ansiedade está associada a hábitos nocivos como o bruxismo, o ato de ranger os dentes, que pode causar desgaste dentário, dores faciais e distúrbios na articulação temporomandibular (ATM). O profissional da odontologia pode desempenhar um papel importante na identificação de sinais de problemas de saúde mental.

“Mudanças no comportamento de higiene oral, sinais de bruxismo, erosão dental inexplicada ou lesões auto-infligidas na cavidade oral podem ser indicativos de condições emocionais alteradas. Em caso de suspeita, o dentista pode orientar o paciente a buscar apoio psicológico, trabalhando de forma integrada com outros profissionais de saúde”, explica a dentista que atende na Zona Sul do Recife.
Outros fatores que afetam a saúde bucal são os transtornos alimentares como anorexia, bulimia e compulsão. Ainda de acordo com Mourato, “pacientes com bulimia podem sofrer erosão dental devido ao ácido gástrico que entra em contato com os dentes durante o vômito. A anorexia pode levar a uma deficiência nutricional, que afeta a saúde das gengivas e dos dentes. Já a ingestão excessiva de alimentos açucarados ou ácidos agravam o risco de cáries e outras complicações”.
Alguns pacientes, no entanto, também procuram atendimento odontológico para melhorar a auto-estima. A secretária Adrielma Santana, mesmo sem ter passado por problemas psicológicos, decidiu mudar o sorriso e disse que o resultado a fez muito bem. “Eu decidi colocar facetas e procurei o atelier da dentista Fernanda Mourato. Foi por uma questão estética mesmo, nada relacionado a problemas de saúde bucal ou mental. Mas o resultado foi maravilhoso, fiquei muito satisfeita e me senti bem após o procedimento”, declara Adrielma.

Problemas revelados no consultório
O cirurgião-dentista Ricardo Trajano Cavalcanti atende em um consultório em Jaboatão dos Guararapes e ressalta que tem sido frequente atender clientes que negligenciaram os cuidados bucais porque estão enfrentando algum problema psicológico. “A princípio, os pacientes não chegam no consultório relatando esses problemas, mas conseguimos identificar as alterações durante a consulta”, conta Cavalcanti.
O especialista destaca que problemas como cáries, escovação prejudicada e bruxismo são alguns dos mais detectados em pessoas com depressão ou ansiedade. “Depois de uma conversa com o paciente, alguns deles contam que estão com problemas em casa, o que afeta o emocional e, consequentemente, a saúde bucal. Têm pacientes que sofrem com apertamento dos dentes e outros que deixam os cuidados com os dentes em segundo plano. Essas questões geralmente estão ligadas ao emocional da pessoa”, pondera o cirurgião-dentista.

Para manter a saúde bucal em dia, os pacientes que estão passando por problemas emocionais são orientados pelos dentistas a manter uma rotina mínima de higiene oral, como escovar os dentes após as refeições e usar fio dental regularmente. Caso o paciente esteja tomando remédios que causam boca seca, é preciso incentivar a hidratação e o uso de produtos específicos para estimular a saliva.
Fatores de risco para doenças
As doenças periodontais, infecções que afetam a gengiva e o osso de suporte dos dentes, segundo especialistas, são consideradas fatores de riscos para as doenças cardiovasculares e o diabetes, comuns em grande parte da população mundial. De acordo com especialistas, vem aumentando a integração entre a odontologia e a medicina para tentar entender a conexão entre essas doenças.
Segundo a cirurgiã-dentista e especialista em periodontia Silvia Borges, o ponto de partida para espantar as doenças periodontais é a prevenção. Ela é feita com o controle da higiene bucal e a ida regular ao consultório. O acúmulo de placas bacterianas na superfície dos dentes e gengivas é um sinal de possíveis complicações para o paciente. Com o tempo, as bactérias periodontais passam para a corrente sanguínea e elevam os níveis dos mediadores inflamatórios, trazendo o risco cardiovascular.

A profissional que atende em Petrolina, no Sertão, alerta ainda que, entre as doenças periodontais, a periodontite é a que causa mais prejuízo ao aparelho de suporte dos dentes e também a que tem ligação com o diabetes. A doença periodontal pode dificultar o controle glicêmico dos pacientes diabéticos, o que aumenta o risco de complicações como neuropatia, retinopatia e doença renal.
Silvia Borges faz um alerta para que pacientes evitem complicações. “O tratamento e a prevenção eficazes das doenças periodontais não só melhoram a saúde bucal, mas também causam um impacto significativo na saúde geral. Para diagnosticar os problemas são feitos exames clínicos com inspeção e exploração do periodonto, além de avaliações radiográficas. Em alguns casos já avançados é necessário o uso de antibióticos e até mesmo a realização de cirurgias, por isso é importante a consulta ao dentista”, esclarece a cirurgiã.
