Todo dia 2 de novembro, Dia de Finados, um túmulo do Cemitério de Santo Amaro, na área Central do Recife, é o mais visitado do local. Levando pipocas, doces, balas, bonecas, bolos e muitos pedidos, centenas de pessoas fazem suas orações, agradecem por graças alcançadas e acendem velas para a Menina sem nome.
A pessoa que recebe essas homenagens não era conhecida de ninguém que faz essa adoração há mais de 50 anos. Ninguém descobriu até hoje a quem pertenceu o corpo feminino enterrado ali no dia 2 de julho de 1970.

A vítima foi uma criança de mais ou menos oito anos encontrada morta com as mãos amarradas para trás e a cabeça voltada para a areia da Praia do Pina, na manhã de 23 de junho daquele ano. Ninguém soube dizer quem era aquela menina.
Logo após o surgimento do corpo, levantou-se a possibilidade de que ela poderia ter sido estuprada e assassinada, mas o laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) descartou o abuso sexual. Como nenhum parente apareceu para liberar o corpo, a menina foi enterrada como indigente.
A criança, então, passou a ser chamada de a Menina sem nome. Seu enterro foi marcado por muita comoção porque a morte da garota foi notícia na imprensa por vários dias. Muita gente diz que teve graça alcançada após pedir ajuda à Menina sem nome.

Presentes e doces deixados pelos devotos da Menina sem nome são recolhidos e doados para instituições que cuidam de crianças em situação de vulnerabilidade. Tem gente que até trabalha como voluntário ajudando a organizar o túmulo.
Cartas e pedaços de papel com pedidos também são deixados para a menina. Entre os mais de 20 mil túmulos existentes no Cemitério de Santo Amaro nenhum recebe mais visitas que o da menina. Uma foto do rosto dela foi colocada na mesa onde são deixadas as ofertas levadas por quem tem fé nela, que é venerada como santa por muitos pernambucanos.
Um homem chegou a ser preso após a morte da menina. Ele confessou o crime, mas depois negou. Foi assassinado no presídio quando esperava julgamento. A história da Menina sem nome é bastante conhecida pelo povo pernambucano, por isso tanta gente vai ao seu túmulo.

Feita ainda no século 19, a necrópole tem o nome original de Cemitério Senhor Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro das Salinas. Como fica no bairro de Santo Amaro, ficou mais conhecido como Cemitério de Santo Amaro. Foi projetado pelo engenheiro José Mamede Alves Ferreira e inaugurado no dia 1º de março do ano de 1851.
Os primeiros enterros do local foram de pessoas mortas no surto de febre amarela que devastou o estado de Pernambuco e, principalmente, o Recife. Naquela época, os enterros ainda eram realizados em igrejas, mas os mortos de febre amarela foram todos sepultados em Santo Amaro.
Túmulos suntuosos
Embora seja um cemitério público, Santo Amaro recebeu e ainda recebe sepultamentos de personalidades e autoridades. Muitas famílias mantêm até hoje túmulos exuberantes nas principais ruas da necrópole. Eles chamam a atenção pelo tamanho e pela beleza e estão sempre bem cuidados.

A arquitetura do cemitério é radial e os túmulos estão distribuídos ao longo de várias ruas. Nele também existe uma capela que fica na área central e foi construída em 1853. É um monumento de estilo gótico de cruz grega e pode ser visto de todos os pontos do cemitério. Em média, 18 mil pessoas visitam o Cemitério de Santo Amaro por mês, segundo a Emlurb.
Entre as personalidades que foram sepultadas lá estão o compositor de frevos Capiba, o cantor Chico Science, os poetas Ascenso Ferreira e Carlos Pena Filho e os ex-governadores de Pernambuco Agamenon Magalhães, Manoel Borba, Miguel Arraes e o neto dele, Eduardo Campos.




