Quem passa pela Rua Ernesto de Paula Santos, nos cruzamentos com as avenidas Domingos Ferreira e Conselheiro Aguiar, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul da capital pernambucana, certamente já deve ter visto Jurandir e seus cachorros. Eles estão lá todos os dias e chamam atenção de motoristas e ocupantes dos veículos e motos que passam pelo local pela maneira como se apresentam.
Aos 43 anos, Jurandir conta que mora na rua e dorme perto de um comércio que deixou de funcionar há algum tempo. Ele nunca está sozinho. Atualmente, cria três cachorros e é com eles que passa toda ou maior parte do dia. Beethoven, 10 anos, Angélica, 6 anos, e Luciano Huck, o caçula, com 5 anos, são os fiéis companheiros de Jurandir. Huck não é tão fiel assim, mas conto isso mais pra frente.
Antes de fazer da Ernesto de Paula Santos seu ponto diário para pedir ajuda para sobreviver e alimentar os animais, Jurandir conta que passou por algumas ruas de Olinda, pelo bairro das Graças, Zona Norte do Recife, e até pela Praia de Ponta de Pedras, em Goiana, sempre na companhia de seus cachorros. “Vivo assim há mais de 20 anos. Já tive outros cachorros que morreram e agora crio esses três”, contou Jurandir.
É num carrinho daqueles de supermercado que Jurandir leva seus cachorros para a rua. Os animais estão sempre com algum acessório e parecem não se incomodarem com isso. São óculos, chapéus, laços, fitas e até perucas. “Eu visto eles de fantasias no carnaval e boto roupa de xadrez também no São João. No Natal, eu uso roupa de Papai Noel”, revelou Jurandir.
No tempo que o Bodega de Notícias conversava com Jurandir, ele só estava com Angélica, a quem deu água logo depois de também matar a sua sede. O calor do Recife não é pra brincadeira. “Beethoven está na casa de uma família que sempre pede pra passar um dia com ele, a filha da dona da casa gosta muito dele. Já já, quando o Sol esfriar, vou buscar ele”, alertou.
Já Luciano Huck gosta mais de estar pelas ruas. Diferentemente de Angélica e Beethoven, ele não costuma ficar no carrinho de supermercado, fantasiado junto com Jurandir, andando entre os carros. “Eu deixo ele mais solto. Ele anda, anda e depois vem pra junto de mim”, destacou Jurandir, que é conhecido entre moradores e trabalhadores das proximidades do quarteirão onde fica com os animais.
Muitas pessoas que estão nos carros aproveitam o semáforo fechado para tirar fotos de Jurandir com os cachorros. As crianças adoram. Algumas pessoas ajudam dando dinheiro, roupas e comida. Outras doam ração para os bichos. Mas nem todo mundo tem bom coração. Jurandir conta que já passou por situações complicadas na rua.
“Tem gente que bota o carro por cima de mim e dos cachorros, tem gente que traz comida vencida, mofada. Uma vez uma mulher me deu um bolo com uma lâmina de barbear dentro. Algumas pessoas dizem que não gostam de pobre, mas as coisas não deveriam ser desse jeito. Ninguém sabe o dia de amanhã”, ponderou Jurandir.
