Uma brincadeira perigosa tomou conta das periferias do Grande Recife. Grupos de jovens têm marcado encontros, geralmente à noite, em locais públicos e de grande circulação de pessoas e veículos, para se enfrentarem numa “guerra” onde as armas disparam balas de gel. Essa “febre” já acontece em outros estados do Brasil e ganhou força, recentemente, aqui em Pernambuco.
Usando óculos, capacetes ou até mesmo com os rostos cobertos por camisas, adolescentes e jovens adultos vão para ruas e praças com essas pistolas para atingirem uns aos outros. As balas de gel não são letais mas podem causar ferimentos, por isso, alguns deles protegem os olhos e as cabeças.
O Bodega de Notícias recebeu relatos da brincadeira acontecendo no Alto Santa Isabel, Zona Norte do Recife, no bairro de Maranguape II, em Paulista, no Morro da Conceição (inclusive, na praça onde está acontecendo a festa de Nossa Senhora da Conceição), no Córrego do Abacaxi, em Aguazinha e em Sapucaia, esses três últimos são bairros de Olinda.

A nova modalidade de diversão, no entanto, tem assustado os moradores das comunidades onde essas “batalhas” acontecem. Em algumas situações, os grupos que estão participando da brincadeira também atiram contra pedestres, motos e carros que passam nos locais onde as balas estão sendo disparadas.
De acordo com a polícia, isso causou a morte de um jovem de 26 anos na noite da última segunda-feira (25). José Adilson Bezerra Sabino, mais conhecido como Guilherme, foi assassinado no Córrego do Abacaxi após o companheiro de uma mulher que foi atingida por uma bala em gel ter ido tirar satisfação do ocorrido.

Guilherme estava no local onde acontecia a brincadeira quando uma moradora do bairro que passava pela rua foi atingida por um disparo nas nádegas. Ela contou ao namorado o que havia acontecido. O homem pegou um revólver e foi até o local onde estava um grupo de jovens com as armas de bala em gel.
Após um desentendimento verbal, o homem, um porteiro de 40 anos, atirou na cabeça de Guilherme e fugiu. Guilherme ainda foi socorrido e levado para uma Unidade de Pronto Atendimento, mas não resistiu. Ele trabalhava como balconista numa padaria e foi assassinado no dia do aniversário.
O suspeito do crime foi preso no dia seguinte, na escola onde trabalhava como porteiro, em Águas Compridas. A esposa de Guilherme, grávida de seis meses, disse que o marido não disparou a bala de gel na mulher. Ele teria se aproximado do suspeito para amenizar a situação, já que o homem estava com a arma na mão e havia crianças na rua.

Embora a “guerra” de bolinhas de gel seja prática comum no Grande do Recife, tudo acontece sem intervenção das forças policiais. As armas podem ser compradas facilmente no comércio de rua ou por sites na internet. A grande procura tem causado aumento no preço do “brinquedo”, que varia de R$ 60 a mais de R$ 200.
A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco afirmou que é de responsabilidade do Exército regulamentar os espaços onde as bolinhas de gel podem ser utilizadas. Disse ainda que a fiscalização da fabricação das armas de brinquedo é de competência do Exército e da Polícia Federal e que a comercialização fica a cargo da Receita Federal e do Exército.
